quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Remo e as Regatas (de 1900 a 1929)


Origens

Em 1900, os “sportmen” maranhenses tentam implantar

mais uma modalidade esportiva - desta vez, voltaram-se para o

remo, e a utilização dos rios Anil e Bacanga. É criado o “Clube de

Regatas Maranhense”, instalado na Rua do Sol, 36. Manoel Moreira

Nina foi seu primeiro presidente: “Club de Regatas Maranhense -

Director Presidente - Manoel G. Moreira Nina; Vice Director

Presidente - Jorge Brown; Director Secretário - José Carneiro

Freitas; Director Thesoureiro - Benedicto J. Sena Lima Pereira;

Director Gerente - Alexandre C. Moreira Nina; Supplentes: 1º -

Manoel A. Barros; 2º - Othon Chateau; 3º José F. Moreira de

Souza; 4º - Antônio José Silva; 5º - Almir Pinheiro Neves;

Commissão d’Estatutos: Dr. Alcides Pereira; Eduardo de A. Mello;

Manoel Azevedo; Arthur Barboza Pinto; João Pedro Cruz Ribeiro”.

(“A Regeneração”, 21 de fevereiro de 1900). Essa iniciativa foi

efêmera. Os primeiros passos foram dados, para colocar as coisas

no rumo certo, mas faltaram recursos para aquisição das

embarcações apropriadas e também faltou apoio do comércio e

das autoridades constituídas.


1908

A 13 de setembro voltou-se a falar na implantação do remo

chegando a ser organizada uma competição, envolvendo duas

equipes que guarneciam os escaleres “Pery” e “Continental”. Os

irmãos Santos estavam envolvidos em uma prática esportiva -

Nhozinho - como era mais conhecido Joaquim Moreira Alves Dos

Santos - como timoneiro e Maneco - Manoel Alves dos Santos -

como voga; A. Lima (sota-voga); B. Azevedo (sota-proa); e A.

Vasconcelos (proa), na “Pery”. A largada deu-se onde é a ponte do

São Francisco, com chegada na rampa do Palácio, sendo vitoriosa a

baleeira “Continental”, que tinha no timão, F. Oliveira; como voga,

J. M. Sousa; voga, J. Sardinha; sota, Maneco Sardinha; e na proa,

Raimundo Vaz. Essas atividades, realizadas no rio Anil, começam a

se tornar hábito das manhãs de domingo e feriados, contando com

uma boa afluência de público.


1909

Nas comemorações de 28 de julho em São Luis, houve outra

prova de remo, tomando parte da mesma militares do 24º BC do

Exército e da Marinha (Capitania do Porto e Escola de Marinheiros),

sendo utilizado barco a dois remos. A elite maranhense fez-se

presente tomando parte ativa, pois atuaram como árbitros da

competição: os coronéis Albino Noronha e Carlos, e os doutores

João Alves dos Santos, Antônio Lobo, Domingos Barbosa, Viana

Vaz foram os juizes de chegada. Na partida, funcionaram Braulino

Lago, capitão-tenente Rogério Siqueira, Dr. Armando Delmare,

João José de Sousa, Francisco Coelho de Aguiar e o Dr. José

Barreto; como juizes de raia, estavam o comandante João Bonifácio,

Charles Clissot, Agnelo Nilo e Antônio José Tavares; sendo o diretor

de regatas, o tenente Haroldo Reis. A saída deu-se na Rampa do

Palácio, tomando parte nos diversos páreos os escaleres: o do

comércio tinha como patrão Antônio da Silva Rabelo; o “Fogo”,

contava com o mestre João Tibúrcio Mendonça; o “Espírito Santo”,

tinha como mestre Manoel Joaquim Lopes; o “Remedinhos”, com

Hermenegildo A. de Oliveira; o “Alfândega”, Bernardo de Serra

Martins; o “Oriental”, João Romão Santos; o “São José”, Raimundo

Alves dos Santos; o “Flor da Barra”, de Carlos Moraes. Participaram

ainda, os escaleres “João Lisboa”, “Gonçalves Dias”, “São Luís”,

“Nero”, “28 de Julho”, “Correio” e “Bequimão”. O trecho entre a

Rampa do Palácio e a Praça Gonçalves Dias estava todo tomado

por um grande público. A partir daí, quase todos os anos, no dia 28

de julho, essas competições faziam parte das festividades. Mesmo

assim, as regatas foram se arrastando em São Luís, com os

abnegados, aqui e ali, aproveitando uma comemoração para realizar

uma prova no rio Anil. O “Clube de Regatas Maranhense” chegou

a ser fundado novamente, muito embora as condições do rio não

apresentassem as ideais, pois não oferecia segurança. O mar, em

determinadas épocas, ficava muito agitado, temendo-se que uma

virada ou o desequilíbrio de um tripulante pudesse vir a ser fatal,

dada a freqüência dos tubarões.


1910-1915

Neste período, a modalidade esportiva de remo entrou

em crise no Maranhão, voltando a reviver posteriormente graças

ao empenho do cônsul inglês em São Luís, Sr. Charles Clissot.


1916

Mesmo com contratempos, foram promovidas algumas

competições de remo em São Luis, sempre no rio Anil, como a

deste ano, que tinha como objetivo implantar, definitivamente, o

remo, inclusive com a criação de uma “Liga do Remo”. (Martins,

1989, p. 217). Os amantes do “esporte do muque”, como era

conhecido, adquiriram no Pará - onde o remo estava plenamente

consolidado - duas baleeiras apropriadas, batizadas de “Jacy” e

“Alcion”. Devidamente equipadas, eram guarnecidas por

empregados do comércio, que se apresentavam bem adestrados no

seu manejo. No dia 26 de março as duas embarcações fizeram-se

ao mar, realizando um “passeio”. A “Jacy” - equipe branca - tinha

como guarnição J. Nava (timoneiro); Júlio Galas e A. Martins

(vogas); A. Santos e Nestor Madureira (sota-vogas); Humberto

Jansen e A. Cunha (sota-provas); e S. Silva e J. Travassos (proas);

já a “Alcion” - trajes azuis -, contava com Humberto Fonseca

(timoneiro); A. Paiva e Avelino Farias (vogas); e A. Rosa e M.

Borges, como proas. As competições realizavam-se isoladamente,

no rio Anil, e não há registro do por que a “Liga do Remo” não se

estruturou. Nas manhãs de domingo, as embarcações realizavam

passeios, mais como recreação do que como disputa, não obstante

os esforços do capitão Melo Fernandes, dos vogas Barão Mota,

Agostinho e Manoel Tavares, dos sota-proas Acir Marques e Haroldo

Ayres, dos proas Joaquim Carvalho e Francisco Viana e do “crock”

Maneco Fernandes. Na Escola de Aprendizes de Marinheiros o

remo também era praticado, dispondo de uma guarnição que

treinava diariamente. Contava com os vogas Cantuária e Fulgêncio

Pinto; como sota-vogas, com Almeida e Abreu; na proa, Belo e

Matos; sota-proas, Zinho e Oliveira e o patrão era Fritz.


1917

Neste ano – em plena 1ª. Guerra Mundial -, enchia-se de

esperança para os praticantes dos esportes. No Maranhão, diziase

que dois esportes marcariam presença definitiva para ficar, o

remo e o futebol: “Apesar da guerra, das crises financeiras, do

alto custo de vida, etc., a mocidade só pensava no futuro, olhos

fixos no dia de amanhã, e, por isso, preparava-se fisicamente.

Pensar diferente era ir de encontro à lógica dos fatos que se nos

apresentavam diariamente, onde se viam rapazes, que eram

incapazes de levantar, como dizia o adágio popular, um gato

pelo rabo. Era inadmissível e errônea a educação do espírito

sem a educação dos músculos, como dizia Müller. De tudo o

homem devia saber. Um organismo raquítico nada valia. Era o

importante para suportar uma moléstia, comentavam os críticos.

Pregava-se o exercício do remo, porque esse esporte era de uma

real utilidade. Esperava-se para breve que, na capital do

Maranhão, pudéssemos nos rejubilar da existência de um bom

futebol e que o remo se tornasse um esporte definitivo, com

prática assídua” (Martins, 1989).


1927-1929

Promoveram-se alguns festivais, no rio Anil, em São

Luís, sempre com receios de ataques de tubarões, que subiam para

desfrutar dos dejetos despejados pelo Matadouro Modelo. Em 28

de julho de 1928, promoveu-se uma regata, em homenagem ao

comandante Magalhães de Almeida, tendo a frente os “sportmen”

Antônio Lopes da Cunha, sempre envolvido com as coisas do esporte,

Cláudio Serra, Hermínio Belo, Benedito Silva e Gentil Silva. As

embarcações não eram apropriadas, usando-se botes de quatro

remos para a distância de 500 metros, embarcações de pesca à

vela e outras de qualquer espécie, desde que não superiores a dez

palmos de boca, embarcações com motores de popa ou internos,

lanchas à gasolina, etc. As embarcações tinham os mais variados

nomes: “Maranhão”, comandada pelo patrão Justo Rodrigues;

“Sampaio Corrêa”, com Gino Pinheiro, como patrão; o bote “São

José”, com Horácio dos Santos como patrão. A firma Marcelino

Almeida & Cia - proprietária do “Loyde Maranhense”-, colocou os

vapores “São Pedro” e “São Paulo” à disposição dos convidados

especiais. Para as comissões, foram cedidos os rebocadores “Mero”,

“Loyd”, e “Satélite”, gentileza da “Booth Line Co.”, do “Loyd

Brasileiro” e de “Santos Seabra & Cia”. Naturalmente que o

homenageado - Magalhães de Almeida - foi o presidente do Júri de

Honra, que contou ainda com as presenças de Dr. Pires Sexto, do

comandante Martins, do coronel Zenóbio da Costa, Dr., Jaime

Tavares, Major Luso Torres, Dr. Basílio Franco de Sá, Dr. Constâncio

de Carvalho e João de Mendonça. A “comissão de chegada” era

composta por Clóvis Dutra, Agnaldo Machado da Costa, Dr. Horácio

Jordão, Dr. Waldemar Brito, e Sr. Edmundo Fernandes; a “comissão

de partida e raia”, contava com Cláudio Serra, Hermínio Belo,

Melo Fernandes e Américo Pinto; o cronista, Gentil Serra e o Diretor

técnico da Regata, Arnaldo Moreira. Os dois primeiros páreos

homenagearam o coronel Zenóbio da Costa, comandante da Força

Pública do Estado, a Associação Maranhense de Esportes Atléticos

- AMEA -, na pessoa do Dr. Waldemar Brito; o terceiro, foi em

homenagem ao aniversariante do dia, o comandante Magalhães de

Almeida, então governador do Maranhão; o quarto, foi em

homenagem ao Capitão dos Portos, comandante Moreira Martins,

com o quinto, sendo homenageado o Prefeito de São Luís, Dr.

Jaime Tavares e, finalmente, no sexto páreo, o homenageado foi o

major Luso Torres, comandante do 24º BC, do Exército. Dado ao

êxito da manhã esportiva, cogitou-se na criação do “Clube de

Regatas Atenas”, que teve como incorporadores e fundadores, os

esportistas Sílvio Fonseca, José Simão da Costa, Euclides Silva,

Herculano Almeida, Carlos Aragão, Dário Gusmão, Anísio Costa,

Murilo Viana, Francisco Lisboa, e José Teixeira Rego. Para começar,

iria se adquirir uma iole a quatro remos, medindo 11 metros de

comprimento - a primeira no gênero a singrar águas maranhenses

-; esperando-se que outras fossem “financiadas”. Mas o novo

esporte do remo em São Luis feneceu nos anos seguintes.




Fontes:

Martins, Dejard Ramos. Esporte: Um Mergulho no Tempo. São Luís:

Sioge, 1989

Remo no Maranhão, 1900 – 1929

Leopoldo Gil Dulcio Vaz (2005)


Foto:

Maranhão 1908, Gaudêncio Cunha.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Os primórdios do Cinema em São Luís

Bem conhecidas são do grande público a produção audiovisual e cinematográfica ludovicense; festivais tradicionais e consagrados, como o Festival Guarnicê de Cinema, um dos mais antigos do Brasil, ajudam a difundir e massificar cada vez mais esta cultura entre os mais diversos meios sócio-culturais da cidade.
O que pouca gente sabe é que a experiência do maranhense com a "7ª Arte", em especial o habitante de São Luís, ocorreu muito precocemente. Aliás, já através dos primeiros contatos com os aparelhos cinematográficos, no final do séc. XIX e início do séc. XX.

A historiografia do cinema maranhense e sua tragetória, apesar de ser tema muitas vezes raro em abordagens acadêmicas, por conta de sua riqueza e peculiaridades, é assunto para diversos artigos neste sítio, o que, provavelmente, será feito em breve, descrevendo os acontecimentos à partir do surgimento das casas especializadas em projeção na capital. Iremos nos ater, a princípio, nas suas origens por estas terras e nos acontecimentos que nortearam este contato.

O cinema em São Luís começou com o que os especialistas chamam de Ciclo do Cinema Ambulante, fase do cinema pertencente ao final do séc. XIX e início do séc. XX, na qual os aparatos para a projeção eram inúmeros, de origens européias diversas e de diferentes tipos de processamento da imagem a ser exibida. À medida que alguns métodos ou aparatos iam ficando obsoletos, outros já mais modernos e com mais recursos iam substituindo-os. Os andarilhos proprietários dos equipamentos (brasileiros e estrangeiros eram ativos participantes dessa empreitada) além de projetar os filmes importados da França e Inglaterra já padronizados pelos estúdios de origem, geralmente eram também autores e diretores primitivos de filmes que exibiam o próprio cotidiano nacional, com suas devidas limitações, é claro.

Sem contar que Moura Quineau se aventurou em projetar filmes estrangeiros em São Luís ainda no fim do séc. XIX, pode-se dizer, com propriedade, que o primeiro registro de filmagem feita verdadeiramente em São Luís foi de autoria do italiano "José Fellipe", proprietário do Bioscópio Inglês, segundo projetor cinematográfico a passar por aqui.
O Bioscópio Inglês fez grande sucesso no Teatro São Luís (atual Teatro Arthur Azevedo), onde esteve de 13 de julho a 09 de agosto de 1902, em todas as noites, projetando “Enchentes à cunha” e “Casas regorgitadas”, como afirmam os Jornais da época.
Após o retumbante sucesso, foi convidado para, com seu aparato, participar da noite comemorativa da adesão do Maranhão à Independência do Brasil; depois de vários discursos e recitais literários e de piano, o Bioscópio entrou em ação.
Um "retrato projetado" dos rapazes da Oficina dos Novos (grupo literário liderado por Antônio Lobo), como bem registrou "O Federalista", teria sido, assim, a mais antiga imagem cinematográfica feita em São Luís.

O segundo registro só foi acontecer em 1906, com o sr. Rufino Coelho Junior, maranhense radicado em Paris, e seu Cinematógrafo Parisiense.
Na primeira temporada de exibições, à partir de 28 de agosto, ocupou o Teatro São Luís para depois mudar-se para o Largo dos Remédios, afim de participar dos festejos da Santa.
No Largo, seus filmes foram exibidos nos dias 08, 09 e 10 de setembro, sempre por volta das 23:00 hs, em sessões muito concorridas.
No último dia de exibições, o sr. Rufino projetou o que seria o segundo filme genuinamente filmado em solo maranhense; mostrava o Pavilhão da Quermesse, a imagem de Nossa Senhora dos Remédios e a figura do Comendador Augusto Marques, o promotor do tríduo.
Ali nascia a nossa cinematografia...

Filmagens do tipo só iriam ocorrer novamente em 1910, já na fase dos cinemas instalados como casas de espetáculo na capital como o Ideal Cinema, o cinema São Luiz e o Pathè, que disputavam a preferência do requintado público.
Em agosto daquele ano o Ideal Jornal trazia a notícia de um filme mostrando aspectos paisagísticos da cidade, de autoria de Luiz Braga, projecionista do cinema de mesmo nome e provável primeiro diretor cinematográfico ludovicense.

O Ideal Cinema também foi pioneiro nos filmes nativos com enredo; a comédia "E durma-se com um barulho deste!" revelou os patrícios de iniciais J.S. e A.R. como sendo bons atores iniciantes. A fita também foi obra de Luiz Braga, que realizaria mais alguns filmes para a grade de programação do Ideal.

Em 1911, a excelência passa ao Cinema São Luiz, com as filmagens do primeiro mandato do governador Luís Domingues, em março daquele ano. Em 18 de maio, "A Pacotilha" registra a exibição da fita "As Festas de S. Benedito", com a saída da missa, a procissão e a saída da igreja na Rua do Sol.
No dia seguinte, o filme anunciado era o “Transporte dos restos mortais de João Lisboa, em 26 de abril” com cenas no cemitério, o préstito na Rua do Passeio e na Praça João Lisboa.

E assim se deram, de forma bem resumida, as primeiras experiências de São Luís com os meandros da "7ª Arte".

Infelizmente houve um vácuo na produção cinematográfica local notada até os tempos da utilização da Super-8, já nos idos da década de 60.
Nessa época, figuras com Murilo Santos, Euclides Moreira Neto e outros membros de núcleos acadêmicos de cinema, através de produções engajadas, de forte cunho político e social, foram os responsáveis pela retomada do cinema local e pela criação do que seria, mais tarde, um dos festivais de cinema mais respeitados nacionalmente, o Guarnicê.




Foto: Histoire d'un crime (Ferdinand Zecca, 1901) - Estúdio Pathè Frères (Paris)
Fonte: MARCOS FÁBIO BELO MATOS: Os primeiros filmes maranhenses.