terça-feira, 7 de abril de 2009

História da Fotografia em São Luís



Um fato deveras curioso é a pobreza dos registros referentes às técnicas de captação de imagens em nossa cidade e, por conseguinte, em nosso Estado. São poucos os historiadores, tendo como uma das exceções Jomar Moraes, que tratam de forma satisfatória do assunto, apesar de sua importância e pioneirismo notado por aqui comparado a outras muitas províncias do Império.

Por esse motivo, e pelo fato de que os artigos aqui escritos buscam principalmente na reprodução de fotografias raras o seu maior atrativo, resolvi abordar o assunto da forma mais didática e prática possível, tentando dar forma à cronologia destes eventos em terras maranhenses.

Sabe-se que as técnicas de reprodução de imagem, após sua descoberta em Agosto de 1839, na França, por Louis Jacques Mandé Daguerre, não tardaram a chegar ao Maranhão. Registros históricos confirmam a presença da técnica em São Luís já em Agosto de 1846, com o "daguerreotipista" norte-americano Charles D. Fredericks, sob a razão social A. & C. D. Fredericks (o "A." referia-se ao seu acompanhente e sócio Alexander B. Weeks, que depois desligou-se da firma). Esta empresa, com seu proprietário recém-chegado de Belém, se propunha a fazer retratos coloridos de interessados da sociedade maranhense pelo processo de daguerreotipia.
Em Janeiro do ano seguinte, Fredericks ainda permanecia na cidade, oferecendo seus serviços, anunciando produtos recém-chegados de Nova York. A tabela de preços estava na média do que se cobrava em outras províncias: 5$000 os retratos pequenos e 8$000 os retratos grandes.

Ampliações, miniaturizações, cópias coloridas, assim como cobertura de eventos e ocasiões fúnebres já eram oferecidos como diferenciais da firma de Fredericks.
Deixou o Maranhão por volta de 1847. Após passar por cidades como Alcântara, São Luís, Belém, Recife, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Salvador juntando recursos, voltou aos Estados Unidos para lá fundar, à época o maior estabelecimento fotográfico daquele país, nos anos 60 do século XIX.

Depois de Fredericks, diversos retratistas surgem anunciando seus serviços na imprensa maranhense, quase sempre de passagem, fazendo esporádicas visitas ao interior da província. Até a fixação da técnica fotográfica propriamente dita, foram notadas ao longo do tempo a técnica da daguerreotipia, da eletrotipia e da cristalografia.

Já no ano de 1866, diversos empreendimentos fotográficos de diversos gêneros já existiam com sede fixa na capital e em pontos bem localizados comercialmente. É o que mostra o Almanak administrativo, mercantil e industrial para o ano de 1866 (B. de Matos, 1866) que cita, entre outros, os nomes de Domingos Tribuzi (retrato a óleo) e José Leon Righini (paisagista e cenógrafo).

Além dos retratistas a fumo, a óleo e fumo e paisagistas, 7 profissionais eram preferidos exclusivamente como fotógrafos pela sociedade ludovicense:

Antônio de Freitas Ribeiro - Rua da Paz, 12
Antônio José de Araújo Lima - Largo do Palácio
Fortunato Ory - Largo do Palácio
Henrique Elias Neves - Rua Gonçalves Dias, 11
José dos Reis Rayol - Rua Gonçalves Dias, 102
João Luiz de Cerqueira - Rua da Saúde, 25
Justino Norat - Rua Grande, 5

Alguns destes já trabalhavam há anos em São Luís, e permaneceram no ofício por muito tempo, gozando de vasta clientela.

A partir da segunda metade dos anos 80 do século XIX surgem diversos estabelecimentos fotográficos na Capital, entre eles a Photographia União, de propriedade de Gaudêncio Cunha (fonte principal das fotos dos artigos aqui publicados) recém-chegado de Belém com João d'Oliveira Pantoja, inaugurada em 1º de Setembro de 1895, na Rua da Cruz nº. 47.

Nota-se então, uma profissionalização cada vez maior destes empreendimentos na Capital, deixando os fotógrafos de serem também amoladores de facas, vendedores de jóias ou professores de artes marciais. Outra característica importante é a sede própria obrigatória destes estúdios, dando a oportunidade aos interessados clientes do interior da província do acesso e comodidade à prestação dos serviços.

Os reflexos da Abolição da Escravatura e a crise do parque fabril maranhense comprometeram severamente a perenidade deste tipo de negócio; muitos faliram, não suportando a inadimplência e custo elevado das matérias primas.

O certo é que, ainda assim, diversos grupos ainda resistiram ao tempo, passando inclusive a tradição fotográfica pra outros familiares. Foto Popular, Brasil, Paris, Avenida, Berlim e Foto Londres eram alguns estabelecimentos notados na cidade durante a década de 50 do século XX. Outras mais surgiram e desapareceram ao longo dos anos...

Foto: Photographia União